POESIAS


SORRISO DE ESTRELAS
Era noite. Olhei para o céu.
As estrelas esvoaçavam.
Olhe novamente e disse:
Boa noite estrela-guia,
Tu és a minha alegria...
Nessa altura, quanta ternura!
Nesse paraíso do teu sorriso,
Luzes diante dos nossos olhos
E que brilham acima de nós.
À noite, tu és a canção
Que mora no meu coração!
Tu e as estrelas sois crianças
Que não saem da minha lembrança!


NÓS

Além das nuvens existe um céu.
Além do tempo existe uma longa vida.
Além de tudo  isso existe o pensamento.
Existe, ainda, alguém que ousa furtar-nos
O que também dele...
Pobres de nós seres inseguros;
São tantos os caminhos
E ainda tentamos buscar atalhos!

Pobres de nós seres incompletos,
Pobres de nós seres complexos!
Nos entendermos para que,
Se somos simplesmente nós?
Nos entendermos para que,
Se somos da raça humana?
 (ANA MARIA DE MOURA)




ESPERA

Passo, vou, compro e volto.
Caio, me ralo, me enrolo e choro.
Sinto saudades, estremeço.
Bebo mais um gole!
Abstêmio – o sexo se atrofia...
Como sinto a falta de Maria!
Chega, chega mais perto!
Estou de peito aberto,
Ansioso na espera...
O que aconteceu ontem
Nem me lembro.
Chega janeiro
E não chega dezembro...

PONTUAÇÃO

Um raio de lua vírgula
Em meu quarto ponto
Pronto para iluminar
A escuridão que me assola ponto
Escuta hífen se latidos
Ao longe vírgula
Da Vila das Águas ponto
Será de fome que mia
O gato interrogação
Ou canta o galo
De alegria interrogação
É a noite se acabando
Exclamação
O cachorro late vírgula
Procurando com o olfato vírgula
O cio ponto
E pronto vírgula o dia
Engoliu o raiozinho
De lua do meu quarto exclamação
 (ANTÔNIO FONSECA)  



VIA CRUCIS

Vera cruz carrega cruz
Por quem não sabe andar,
Por quem não soube falar.

Vera cruz está triste,
Vera cruz está feia de tanto chorar.
Ela precisa de alguém,
Quer cuidado.

Vera cruz carrega cruz
Correndo atrás da luz
De alguém que não a seduz.


POEMA QUE PASSOU

Escrevo um poema,
O poema do meu amor,
Amor que eu não tenho,
Que não sei quando virá.

Tropecei em alguém no caminho.
Olhei, gostei, e só.
O anjo me viu
E comigo falou.

Eu quis, ela pensou:
Impaciente e imaturo!
Luxei a desprezar.

Com os erros aprendi
E, com o tempo, os apaguei.
Olha o amor! Eu não o vi.
  (BRUNO CONDÉ)


A QUEDA DE UM AMOR

Feito estrela cadente caiu
Em um mar tempestuoso,
Foi, sem tentar, se salvar,
Deixou para trás
A segurança de um coração.

Não pensou no cuidado,
Na sinceridade que o circundava.
Quem sabe, se cansou da rotina,
E se lançou, no mar,
Seguindo a escuridão.

O coração vazio à beira da praia,
Molhando com lágrimas quentes
A areia fria. Não há volta...
O que ficou são apenas as imagens
Das ondas enormes
Levando para longe o amor.

Na praia o coração, em mil pedaços,
Espera ter força para se juntar
E uma única esperança
Que tenha força para reconstruir.

 FUGA

Rabisquei um recado
E sai para a rua,
Abracei a liberdade
E sai da rotina;
Senti-me leve,
Respirei o sol,
Bebi o ar,
Comi a vida,
Acalmei-me,
Lembrei, sorri,
Andei de braços soltos,
Meio de lado, depois me abracei.
Ajeitei o cabelo,
Não tive pressa...
Se o ideal é esperar o tempo passar,
Nunca se apresse...
 (CRIS VIANNA) 


INOPORTUNAS MANCHETES

No despertar do sol, nas manhãs de primavera,
Os índices de violência assustam a população.
Gotas prateadas de orvalho na verde relva:
Crime organizado decreta toque de recolher,
Encena um espetáculo de sublime beleza.
Menor abandonado é vítima de maus tratos.
Singelas orquídeas nas árvores nativas,
E encontros de casais terminam em tragédia.
Nas colinas verdejantes, sob o céu azul,
Delegado de polícia é suspeito de tráfico.
Decoram o paraíso de magnitude suprema.
Padres pedófilos são acusados de estupro.
Nuvens brancas passam ao vento:
Senador e deputado fazem parte da quadrilha.
Borboletas multicoloridas no jardim em flor,
Chuva de balas perdidas durante o culto.
Cantos harmônicos dos pássaros silvestres,
Incêndios criminosos devastam as florestas.
Remeto-me ao epicentro da divina inspiração.
Policiais corruptos fornecem armas ao tráfico.
Viajo na curva do arco-íris exposto ao céu.
Prostituição infantil se alastra em todo país.
E lhe encontro na fábula da fada mágica.
Novo atentado no shopping, dezenas de vítimas
E um beijo leve no mel dos seus lábios.
Criança recém nascida é atirada no rio;
Menino, acende as luzes do meu coração!
Homicídio bate novo recorde, diz pesquisa.
E, assim, envolvidas no manto do sagrado amor,
Desigualdades sociais assustam o planeta.
No findar do dia, crepúsculo da esperança,
Furacões e terremotos – o planeta contra-ataca.
Rogo a Deus, em súplicas, por um mundo de paz.
De repente, me vejo num sublime reino,
Onde Deus, com o Seu supremo poder,
Oferece-me e a nós um mundo cheio de mistérios.
É setembro nos bosques de Buritizeiros.
(DECK CARMONA) 

 
LÂMINA VERMELHA

Da porta do meu quarto
Consigo ver formas que se formam lá fora.
Prédios retangulares,
vértices sem saída,
homens e seus relógios

Em frente ao espelho, experimento lâminas  
de mim mesmo, concordo com meus sonhos
e com mulheres de fantasias
que ultrapassam a certeza dos sonhos acordados
De Martim Scorsese
E os maus dias que Stephen Kng.

Meus sonhos são como asas em sangue fresco,
como tinta pintando meus retratos inacabados,
jogados no fundo do velho baú no segundo andar
de um casarão coberto de lodo.
As coisas por aqui são como cartas nunca recebidas,           
incontáveis horas no acaso,
esperando o que nunca virá.  
Coisa esquisita é esperar um amanhã
que nunca chega,
pessoas que não verei,
enquanto minha obsessão      
persegue-me e minha boca não estiver pronta
para dizer o que meu coração precisa escutar.

Minha mente é mais um pretexto.                             
Pretexto para não aceitar o que virá.
Sangue escarlate         
que me mantém desse jeito morto e sem vida.
Hoje, o céu nunca foi tão azul...
Pensei em avisar as pessoas, lá fora,
sobre a beleza desse  finito que nos humilha todo o tempo.

Falta-me coragem                                                      
de olhar nos seus olhos sem compromisso,
sem carregar, na alma, angústia de sentimentos
que nunca serão meus, embora os deseje com ardor,
e jamais sentirei em minha pele seu toque.    
Queria que as correntes, que me sufocam,
prendessem-se a você...

Assim termina o meu dia
Com muitos sonhos para o futuro,
Com expectativas perenes de mim;
 Afinal, amanhã é sempre um porvir,
Uma esperar especial do amor...
Faço planos: esperar e fazer outros planos depois,
sonhar  e cessar as noites para sonhar outra vez com você.
 (EDUARDO VENÂNCIO)

POEMA DO MEU AMOR

Não tenho a pretensão de ter um amor impossível
ou desses de deslizes.
Amor não se faz sem que haja paixão,
compromisso, cumplicidade...

O amor, que busco, é livre, não  se confunde, 
Quando de mim se lembrar.
Não espero ter um cavalheiro
que a toda hora me chame de amor
ou que me traga flores, o que for!

O meu amor tem na fala a ternura da calma 
e a volúpia no momento do amor...
Amor não é produto que se vende ou barganha.
Guardar-me, para o amor,  é por mim uma escolha .

O amor, que busco, não se dá à luxúria,
Não se pega pela manobra de um chifre.
O amor, que busco, é limpo,
transparente e não serei vergonha
quando alguém me ver passar,
posto que, para ser phd no amor,
só será preciso amar o meu amor.


O ENVELHECER ESTÁ NO ÍNTIMO

As rugas dos meus olhos são claras,
luminosas, patentes,
mas, nem assim, me deixam infeliz ou descontente!
Não tenho a idade das flores
colhidas tenras e formosas,
mas, nem por isso, estou desfalecida,
despelando em jarras esquecidas.
 (FRANCIS PAULA)

HECATOMBE

Rajadas fortes enchiam os céus de um burburinho sibilante.
Nem um luzeiro de estrela trespassava aquele negrume denso!
Uma luz amarela e mortiça temia e tremia,
Um mar de nuvens cobria o céu,
Um céu encoberto de panos alvos
Como uma vitrine de neve enguirlando tudo:
- Não é neve, ó, Deus!
É fumaça de bombardeio...

Em mim a permanente e angustiosa perplexidade,
Em mim o ar de enfado envolto à fumaça inebriante.

Sob o peso de pressões políticas,
Econômicas,
Existenciais,
A decomposição social e moral de nossa civilização,
As injunções a que está exposto o espírito humano,
E, em meio aos humanos gritos
De magros homens desnutridos,
Ainda ressoam os noturnos roncos gordos
Dos gordos canhões.

PORQUE CANTA AS CIGARRAS...

Naquele entardecer de domingo
Brilhava, no mar, o astro dourado,
Um raio de luz claro...
O sol constante.
O sol queimava e o canto da cigarra aturdia
Um canto perdido entre o arvoredo da velha casa da praia.

A cigarra, em campo aberto, feliz com a vizinhança do mar,
Onde eu costumava entreter-me da manhã à noite,
De quando em quando, levantava a mãozinha
Enluvada para esfregar os olhos – um olho
Celeste-aveludado que piscava com doçura
E, sentindo minha presença, silenciava-se.

A visitante, deslocando-se para um galho mais alto,
Insistia em falar de si, começando um novo chiado,
Desta vez mais estridente!

Uma beleza que se encerra
Para a festa permanente dos sentidos...

Todos os dias, ao entardecer,
Lá estava, no vazio deslumbrante
Da longa e fatigante tarde de verão,
O contínuo e ininterrupto estridular das cigarras.
(GIL BERTH LOPES)


ECO

Às vezes, me perco no encontro da vida,
nas palavras que digo,
me vejo perdido,
me vejo traído;
sei que tento sorrir,
mas não sou capaz de tal sorriso;
meus olhos brilham como as estrelas,
mas não por ter luz própria
e, sim pelas lágrimas que por eles caem;
quando olho para o céu,
sinto claro n escuridão,
vendo tantos relentos que, na imensidão,
tudo me encontra.
Nada me procura no pulsar das minhas veias,
Me sinto no esquecimento do meu falar.

RENÚNCIA

Hoje rasguei suas fotos que me acompanhava,
Rasguei suas cartas que tanto tinha lido.
Hoje quebrei tudo aquilo
Que fazia lembrar-me de você,
Rasguei seu endereço, queimei a agenda que tinha.
Hoje inutilizei meu passaporte, 
Pensei na vida, esqueci da morte.
Hoje pensei em outra, tentando-lhe esquecer.
Hoje varri meu sentimento,
Renunciei a tudo que me lembrasse você.
Hoje esvaziei meu peito,
Não sei se tenho direito de tirar você de minha vida.
Não sei se posso fazer isso sem lhe consultar,
Não sei se fui egoísta ou hipócrita
Com essa renúncia. Não!
Digo-lhe: não foi fácil chegar a esse ponto
E me pergunto se amanhã suportarei essa decisão,
Essa faxina que fiz dentro de mim.
Será que ficarei triste ou serei feliz
Por ter renunciado a você?
Hoje rasguei meu peito em uma renúncia de amor.
Amanhã será uma cicatriz dessa dor;
Depois será um hoje de renúncia...


DIÁRIO DE UM PAI

Filhos, meus filhos...
Se, porventura, hoje, eu morrer,
Não chorem por dó nem tão pouco
Por eu ter deixado vocês
Sem saber como ou por que.
Caso eu morra pela força divina,
Somente orem para que eu tenha um lugar
Tranquilo no paraíso de Deus!
Caso alguém me mate com tiro,
Revoltem-se, deixem que meu sangue se estanque
Com os minúsculos resíduos
Do chumbo da bala que me atingir!
Caso eu seja morto com uma faca,
Não se revoltem, mas deixem que meu corpo se esgote
Todo o líquido vermelho para o chão
E que esse fique manchado pela morte
De um ser que quis ser alguma coisa
Valorizada no mundo e não um ser perseguido por alguém
Na sede de matar mais um na esperança
De um troféu maculado de sangue!
Filhos, amados filhos...
Não ignorem nem se revoltem, porque talvez eu seja morto
Na hora certa, talvez eu dure a eternidade na amizade
Da dúvida que eu viva retraído no paraíso
Da pressão da arma de alguém que nem sei o nome!
Filhos... Rezem por mim porque eu não sei rezar,
Não sei nem mesmo morrer!
Lá bem distante,
Estarei torcendo para que sejam bons cristãos,
Sem ódio ou desejo de vingança
Por um pai que não soube morrer
Por vocês ou viver ao lado de vocês!
 (GILBERTO REIS)


AS BORBOLETAS VOAM

Nessa espera finita,
Ouço sons de asas de borboletas...
Sons opacos e quase inaudíveis
Mas penetram nos meus ouvidos
Como o pulsar do coração.

Absorta  em pensamentos
Não alcanço a dor
Nem os motivos de sua confecção
Nem a beleza que nela habita.

Atiro-me em busca incomum.
Reconheço alguma coisa em mim,
Mesmo sendo apenas uma impressão,
Uma metamorfose desfeita,
A ausência de compreensão.

As borboletas brincam com meu cansaço,
Como a exuberância do teu sorriso castiga
Os dias que custam passar,
Que sequer consegue enxergar as
Lagrimas de um coração aflito.

Sou como um olhar profundo
Em uma sala vazia...
Tento recriar a beleza,
Se o amor é dilacerante e aflito
No vago passar desses minutos.

Se existe em mim
Esse carinho e afeição, aceito-o.
Embora tenha essa ternura em mim, critico-a.
Se é apenas esse amor inalcançável
Que a vida me oferece, contemplo-o.
Só se vive a partir da aceitação.
Só contemplamos o inalcançável.
E somos capazes de criticarmos 
Apenas nossa existência.
E as borboletas continuarão a voar...
 (IEDA ALKIMIM)


PLÁGIO DE MIM
Sondo a alma já quase em desuso,
escolhendo apenas o que me agrada, 
mas, encontrando tristeza, saio em disparada
para eu não descobrir que sou um intruso.

Maquiarei as imperfeições mais aparentes,
as perfeições hei de levar comigo,
suscitando os mais preciosos amigos,
não querendo inimigos reincidentes.

Na junção do corpo e da alma,
não quero seguir dietas,
mas quero herdar a calma.

Nesse plágio do que há de melhor em mim,
que meu velho eu que por si morra,
pois meu novo eu quero viver sem fim.

COM MINHA PERMISSÃO

Dei permissão ao vento para tocar-te.
Ordenei as flores que desabrochassem por ti.
Pedi ao sol para não machucar tua pele linda e sedosa.
Combinei com os pássaros
para que cantem sempre quando passaste.
As mais belas borboletas irão te guiar
no caminho que, para ti, decorei com lírios e rosas;
as rosas prometeram produzirem-se sem espinhos
e com o melhor dos perfumes,
pois tuas mãos macias 
e ti merecem beijos e carinhos.
 (JAIME TIJOLIM)
  
POETICAMENTE
O poema nada mais é do que a forma
simples e solitária de expressar sentimentos.
Saber escrever não é tão importante quanto saber amar;
por isso, ame muito, ame a vida,
que será o melhor dos homens: o pai mais dedicado,
o filho mais compreensivo, o namorado mais feliz,
o ser humano mais humano...
ERA VÉSPERA DE MADRUGADA
Era véspera de primavera,
quando vi aquele olhar pela primeira vez;
da primeira vez se fez uma lembrança
interminável em meu coração!
Um improviso encorajou o coração aflito
e, daí, um obrigado e tudo virou amor.
Enquanto deslumbrado, não notei a lua
que iluminava a noite no quintal;
não notei estar chegando a primavera!

Coincidências? Não, não... Mas uma linda flor
se revelou, desabrochou e vive em mim.
Teus lábios tocaram meu rosto,
tua suave voz soou aquele eterno
“boa noite”; foste em embora...

Teu nome pelo ar ficou... E também
aquela vontade de beijar-te,
assim como o beija-flor em primavera
passada, recente, próxima... mais alegre.

A primavera se eternizou em meu coração
e tu minha flor para sempre... Primavera, amor, amor!
(JONAS AUGUSTO)


HELENA

Dos ajuntos da minha infância,
Vez por outra encontro Helena passeando,
Piscando com seus olhos que já não os sei;
Devem ser olhos de hoje,
Desses que elaboram meus gostares.
Olhos e lábios,
Convite para o amparo no cheiro imensurável,
Que é mais além do perfume do banho:
É cheiro na alma
Dos encontros de amor.



MESA DE BAR

Por entre a taça de vinho,
Vejo teu corpo rubro.
E a mesa nem começou a girar!
Filtro a tua imagem,
Sonho com o paraíso
Onde se esconde os cachos de uvas.
Posso depositar
Na tua boca
O fruto da videira,
Enquanto sobrevivemos.

Desliza sobre teus seios o vinho
E meus olhos escorrem juntos.
Sorvo teu corpo,
Analiso tua anatomia,
Bebo-te!
Transbordas na taça,
Derramo-me na mesa.

Quem terá te trazido para cá?
Quem plantou em mim esse desejo
De sorver-te misturada em morango e vinho?
Repreendo esses sinais...

No entanto sigo teus molejos,
Deixo a poesia deitar toda revelação,
Triturar,
Quebrar a unidade que sou
Em pedaços
Do meu interior.
(MANUEL FERNANDES DIAS) 


UM GRITO NA TARDE

Na tarde um grito. Quem Grita?
Um grito não vale nada
nesse mundo cheio de gritos,
gemidos e desespero.
Ouço na tarde um grito.
Quem grita? Ecoam muito longe
gritos, gemidos e desespero.
Seria o grito
de alguém
perdido na estrada?
De alguém perdido na mata?
Talvez de alguém no fundo de um buraco.
Ou de alguém perdido no deserto do mundo.

SIMPLICIDADE

Simplicidade - o pássaro voando
à procura do ninho,
a cigarra cantando no caminho
e a água, na fonte, soluçando.

Simplicidade - o lastimar do cão
nas horas idas,
a beleza das tardes coloridas
e a entrada branca do sertão.

Simplicidade - o lírio que se abriu
no meu jardim,
o mistério do olhar que ninguém viu
quando, ao luar,  ela passou por mim.

Simplicidade - o deslizar da mão
da criança no berço em lindo sonho,
a lembrança imortal de uma canção
e a tristeza dos versos que componho.
(MANUEL MARTINS)


FORNO DE CARVÃO

Se para muitos tu és sinal
De derrota, para mim és símbolo de vitória!
Ainda criança, nas suas poeiras e munhas, brinquei
Ao som dos pássaros e do chocalho
De uma cascavel – e me criei!
E, na sombra de uma paineira, descansei.

Em ti trabalhei, nas tuas praças,
Em meio à fumaça a irritar meus olhos,
Aprendi a primeira lição:
Com o suor dos meus braços e do meu rosto,
Meu sustento, meu pão.
Que essa fumaça suba a Ti,
Oh, meu Deus,
Como oferenda, louvor e oblação!

Agradeço a ti, forno de carvão,
Tudo que sou, aprendi e vivi.
Tu foste o princípio de tudo,
Mas não ser-te-á o meu fim.

PÉ DE IPÊ

Em meio a tanta seca e aridez,
Pelo campo afora,
Vejo um pé de ipê que flora.
Suas flores abrem e se revigoram
Como um sopro
De Deus no mundo que chora.

Olhando o pé de ipê, penso em mim,
Que ando destorcido, sem rumo,
Como há anos não me via assim.

Na minha cabeça esperançosa,
Dúvidas em meio a tudo...
... lá, ao longe, vejo um pé de ipê que flora.
 (ORLANDO NOGUEIRA)

 
MEU POEMA DE AGORA

De repente, sinto saudade de minha infância,
de minha fase remota do lobo;
sinto saudade e me comprazo delas.

Não repetiria os erros e os graves atropelos
que minha vida teve.
No momento, só o amor me acalenta.

Não há poesia nem qualquer outro pretexto
que me preencha, assim, de tal forma,
na plenitude de mim;
só o amor, só o amor - com ele me felicito,
por ele sofro e me sinto como agora...

Não faz mal, não faz mal.
E vou passear um pouco pelas ruas e praças,
vou passear conversando com meu coração
já passando dos cinquenta e cinco.

VERSOS

Eu sinto um aroma no meu dia.
Uma leve fragrância de amor, de ameixas.
Nunca me esqueço. Nem dela.
E me entorno em minhas páginas
e pensamentos, risos alegres,
pueris, sinceros: que saudade! 
 (PAULO URSINE KRETLLI)


PARLELAS
                                                   
 A praça está cheia de gente espalhada por entre as árvores,
Sentadas em bancos e no chão.
Algazarram, fofocam, comentam.
As casas, em volta, são as testemunhas.

As árvores não são iguais às árvores da minha fazenda.
São árvores de praça e as da minha fazenda
são árvores de campo. Livres!
Nas árvores da praça só tem pardais e rolinhas.
Porque rolinhas urbanizaram-se.
Nas árvores da minha fazenda tem outros tipos
de pássaros: mais cantadores, mais encantadores.

Nos campos da minha fazenda tem gado
que muge e come capim.
Não algazarra, não fofoca, nem comenta.
O gado da cidade é essa gente tagarela.

Os currais, a sede, o paiol, a casa de máquinas
e a pocilga são as testemunhas mudas
de uma vida simples, livre e pura!

A vida na cidade e no campo andará sempre lado a lado,
Como paralelas.
Não se encontram nunca!
 (SALES DOS REIS)


AMOR EUFÓRICO

Quisera eu beber em tuas fontes,
Saciar minha sede em teu lugar
E só então aliviar minha alma
No doce do teu enamorar,
Ter contigo um verdadeiro compromisso
De amor e de eterna gratidão;
Depois de nos entregarmos a esse amor louco,
Deliciaremo-nos com toda satisfação...

DESABAFO

Um choro,
Um pranto,
Uma agonia,
Um canto,
Um olhar distante
Perdido no tempo,
Um pensamento torto,
Um lamento roto.

Uma viagem breve,
Uma paixão se atreve,
Um amor que serve
E alivia o pranto.
(TINA POETA)






Um comentário:

  1. Parabens a todos membros da academia.
    Lí diversas poesias postadas no blog.
    De alguma maneira elas nos tocam. Nos ensinam a olhar para dentro de nós. Expressar para os surdos. Aproximar dos distantes atraves dos olhos. Dizer o belo para quem não quer ouvir.
    Destaco para "pontuação e paralelas" de Antonio Fonseca e Sales dos Reis.
    J.Hilton
    www.josehiltonrosa.recantodasletras.com.br
    joiltonrosa@yahoo.com.br

    ResponderExcluir